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domingo, 4 de maio de 2008

Velório de um futuro que não veio


Estranho. Aquele momento não teria melhor descrição. Os dois sentados no escuro, debaixo da janela que jogava o restinho de luz dos postes da cidade. O clima era o de uma confusão psicológica que os dois experimentavam juntos.

- Posso te confessar uma coisa?

Ele perguntou com aquele olhar. Um que não conseguia repousar nos olhos dela, nem por um segundo. Olhava sempre pro chão, e deste, arrastava à parede; repetindo o caminho num vai e vem conturbado e ansioso.

- Eu nunca imaginei que isso fosse possível.
- O que? - Ela perguntou.
-
A gente, esse conjugado, essa janela. Nossos Mundos tão diferentes. Quando meu primeiro dente caiu, você já comprava absorventes...

Ela mesma não disse nada. Os olhos dela tinham uma característica que sempre o intrigou: Eram sempre úmidos. Além de que, o olhar dela era sempre de baixo pra cima e sempre dizia: “há algo mais pra ser dito?”. Ela não era um exemplo de pessoa dessas que acham que a vida pode ser grande, mas os olhos sempre esperavam por algo mais. Se a frase dita tivesse três palavras, os olhos dela se preservavam até o tempo de serem ditas seis.

- Nossa Vênus precisa de mistério. Se não houver mistério a gente enjoa... Você já está enjoada? Eu to sentindo que está. Fale a verdade, eu agüento. – ele mentia.

Na cabeça dela, essas últimas palavras não foram recebidas em português. Vieram num estranho dialeto, que as resumiu a uma simples mensagem: “sou um garoto ansioso, tenho pressa, estou nervoso; vamos viver essa vida logo, vamos?”. E, para ser sincero, ela não tinha mais energia para isso. Quando ele foi embora, ela ligou a TV, fumou seus cigarros e sentiu-se, mais ou menos, como se aquele momento fosse o melhor que a vida poderia oferecer. Já o rapaz, ao pisar na rua, foi abduzido pelo destino e eles nunca mais se viram.

Dizem que hoje eles são tão diferentes, que moram no mesmo prédio, são vizinhos de porta, mas quando se cruzam não reconhecem um o outro. Dão bom dia por educação e seguem suas vidas. Ele um escritor estranho, ela uma professora cansada.

23 comentários:

Nélio Darck disse...

a espectativa por uma obra maior é aguardada com grande prazer, um belo texto sem duvida..e eis ai uma bela trama da vida bem exposta e bem narrada..

excelente blog

Mariana disse...

eu gostei demais... muito mesmo!!!!!

sei como é ser ansiosa e meter os pes pelas maãos..

beijosss

Leonardo Vianna disse...

Eu parabenizo a você, Igor, pela beleza de sua postagem. Os sentimentos que emprega em cada frase são sentidos com facilidade. A graciosidade com que exprime suas palavras é tamanha.

Parabéns mesmo, você merece.
Gostei muito!

^^

DaniCabrera disse...

Ótimo teu post. Engraçado que desde que comecei a ler teus posts (ontem!rs) lia o texto e só no fim lia o título. E parece que o peso do que lia era maior ainda assim.
Obrigada pela visita. Lógico que sim, vc é sempre bem vindo [sobre a pergunta de poder visitar e de linkar com o teu]. Inclusive estou fazendo o mesmo...

Não quero falar do teu BLOG em si, mas sensibilidade que o gera é impressionante.

Até mais!

Dσw Edyηhо disse...

Opa.. e ae tudo bem?

massa o blog!

sucesos ae!
t+

Yuricka disse...

ah.. eu achei triste!

sabe é bem verdade q o tempo desencanta algumas pessoas, e faz com q percam essa "ansiedade do amar" as coisas ficam cansativas depois de vividas muitas vezes.. e amulher no caso ilustra isso bem.. o melhor momento dela é qndo está em paz, com o cigarro e ela mesma.. e ele tbm mmostra bem o outro lado.. mas nha é meio triste num acreditar q um possa mudar o outro.. e q podia dar certo.. xP

mas ficou ótimo! de verdade!


bjobjo

Jozieli disse...

Criar essa curiosidade no leitor de querer saber se o autor vivenciou a situação que narra, é algo bárbaro! Remete a sensação de que os personagens são reais, e que é impossivel que não tenham vida, ou que tudo seja mera "imaginação" de alguém insano. Não sei se o que você descreveu aconteceu de fato - embora eu esteva mordendo os lábios de curiosidade para saber - mas tu escreveu de tal forma que remete a idéia de que é tudo real. Quando se consegue isso, o texto realmente está bem escrito! Parabéns meu caro ;D


Sobre o meu texto, não vivi aquilo. Embora tenha me inspirado em uma situação real, aquela separação não houve, ainda. Nem o ambiente existe. Enfim, diria que sou demasiadamente pessimista, e algumas vezes tenho a mania de prever o futuro. Aquilo foi uma dessas previsões, enfim.
Pode por o meu blog nos seus links sim! Farei o mesmo com o seu, porque adorei tudo aqui, verdade!

Aiai, aqui chove, esse café e essa chuva me inspiram. Vou escrever.
Boa noite caro escritor!

Cruela Veneno da Silva disse...

como vc escreve bem...

parabéns.

te dou nota 10.

ღ mey ♥¨`*•.¸¸.•*´¨♥ღ disse...

oiie
gostaria de te convidar pra conhecer meytamorphoses, um blog sobre livros, música, cinema...
Espero que curta, bjaum!

Tiago Soarez disse...

Ei,

q blog gostoso!

E esse nome? "Olhando pra grama" Gostei muito!

Agradeço a sua visita no meu blog e passarei aqui sempre q puder!

abração, Igor!

Abdalan disse...

Ótimo texto. Belo BLOG.

Abdalan
abdalan.blogspot.com

Jéssica Coelho disse...

nossa eu keria escrever assim ~~

meu blog eh d textos ke eu tenhu guardados aki =P
adoroooooo ler =P

;*

Lau disse...

Nem tenho mais como elogiar...o mínimo que posso dizer é excelente, estilo literário ótimo, escrito com qualidade...poste mais e mais, sou fã dos teus textos =D
Já devorei tudo que tinha aqui *.*

E está linkado, com certeza! Obrigaaada o/

Nathália E. disse...

Acho tão triste quando histórias terminam assim.
Sabe, gosto quando tudo termina bem e de uma forma avassaladora. Mesmo sabendo que nem sempre é assim.

Amei o texto!

Ps.: Eu não fiquei surda suuuuuuurda, entende? Sabe aquela sensação de subir a serra? Então, estava fortíssima e ficou assim durante 2 dias seguidos. Terrível.

Monalisa Marques disse...

Seu texto me lembrou uma música, mas olha que engraçado. Não lembro o ritmo, a letra, o cantor nem o nome. Na verdade, lembrou a existência da música, mas não a música em sim.
Mas isso não vem ao caso. :)

Rapaz, seu blog é o máximo. Seus textos, sua descrição.

Quanto mais links melhor!
Boa tarde, meu mais novo link! Hhahaha.
Parabéns pelo blog.

Regy Angel disse...

A cada dia seus textos ficam melhores...se continuar assim vai acabar viciando os leitores.
Isso é maravilhoso.
Achei o final um tanto melancolico, porém faz com que o texto fique original.

Quanto a linkar os blogs...por mim tudo bem!

volte sempre mesmo.

Gilmar Gomes disse...

"Quando meu primeiro dente caiu, você já comprava absorventes..."

Fruta que caiu!!!
Já vi que nunca teremos um texto sem dentes por aqui... Seus posts mordem??
huehueheuheuheue

Sobre a sua idéia de linkar... Faz tempo que não linko nimguém, rs... Mas já tá linkado o seu lá. Abraço.

Mayara disse...

Muito bom.

Juliana disse...

Uau, já tem alguma ideia sobre o que será seu livro?
Tenho 2 livros meus um se chama COnfissões e é de poesias, o outro se chama O último adeus é um pequeno romance real...é incrivel tive de escrever um romance para enfim conseguir aprender a dizer adeus! rs doidera demais...Mas estes não contam, são muito pessoais, quase como um diario...vivo querendo escrever um livro de verdade, crônicas ou romance, mas sou dispersa demais...quem sabe um dia eu me discipline e me dedique a fazer o parto deste livro que está em minha mente, apenas esperando o momento certo de nascer...
Mas é realmente verdade, eu adorei seu blog...mantenha contato e noticias sobre o livro...tenho certeza de que será incrivel!!!
Beijos, Juliana.

Solteira disse...

Igor!

Esse conto parece real... se for ele é triste e ao mesmo tempo natural. Se ele for fictício é sucesso.
Hoje em dia o que mais ocorre são os desencontros psicológicos. O que tinha tudo para dar certo na verdade não dá, que coisa! Homem e mulher nunca estiveram tão distantes. As almas afins estão em conflito - na maioria das vezes. :(

Hahaha, e a cabrocha?

Gostei do seu comentário sabe... a sexualidade, na minha opinião, hoje em dia está mais para banal do que era antes nossa principal característica. A popularização da 'bunda' contribuiu para isso acontecer.

Carla M. disse...

nossa, impressionante como tu brinca com as palavras! consegue construir uma atmosfera tão intimista que mesmo sem sabermos os detalhes, entendemos o que se passa.

perfeito.

Anônimo disse...

gostei do fim. me lembra um filme q eu vi e num me lembro o nome... nao que esteja comparando...particularmente gosto muito do jeito que vc escreve as coisas.

mundos distantes atrapalham de mais os sentimentos neh?

abraços teh mais

Alessandra Castro disse...

Puxa relamente me apaixonei pela doçura exposta em seus textos. Como dois mundos diferentes, duas pessoas assim tão distantes e tão perto. Armações do cruel destino.

 
Olhando Pra Grama