Anúncios Google

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Crônica pra contar pro espelho



Era uma tarde amena. Ele andava pela cidade descobrindo novas distrações para pessoas solitárias em tardes de Domingo. São Paulo o acostumou a uma dinâmica que antes não havia visto muitas vezes: caminhava sempre cerca de dez minutos seguidos, resfriado pela sombra que os prédios faziam, até encontrar uma fresta de céu aberto onde o sol batia em seu corpo, lambendo seu rosto, entrando em sua roupa, massageando suas costas e, por fim, dando-o a maravilhosa sensação provocada pelo choque térmico; um orgasmo poético. Ele era só mais um amontoado de carne, ossos e alma, esquentando-se na movimentada rua acinzentada, frente ao Centro Cultural que descobrira.

Já na bilheteria do cinema – entrada franca para filmes de Alexander Kluge – trocou olhares com uma mulher assustadoramente branca, de cabelos muito negros e olhos gigantescamente verdes. Pegaram ingressos para o mesmo filme e caminharam juntos para o mesmo bar, onde fizeram hora até que se abrisse a sala escura. Tomaram café juntos, fumaram um ou dois cigarros, sorriram um para o outro, mas, durante todo o tempo, não disseram uma só palavra. Ele estava impressionado com os sentimentos que o rosto dela causava nele. Ela parecia cada vez mais interessada em continuar olhando fixa e absorta os olhos dele, assistindo-o a cada gole daquela bebida tão aconchegante. Sentaram-se juntos durante o filme e, dos vinte minutos em diante, ficaram abraçados intimamente até o final da sessão. Ele a levou pra casa, que ficava a duas quadras dali, e, ao deixá-la na portaria, finalmente quebrou-se o silêncio:

- Meu nome é Paula. Eu o amo. – ela disse.

Nesse momento, ele puxou as mãos delicadas da moça para o seu peito e sorriu serenamente, como quem tem todas as respostas para a vida, mesmo após ela mudar as perguntas. Como quem entra aos poucos, acomodou-se dentro daqueles enormes olhos verdes e disse:

- Eu sempre soube disso. Só precisava te encontrar para que me confirmasse.

Paula sorriu, pegou um papel com seu número e pressionou contra a palma da mão do rapaz. Beijou-o nos olhos e subiu para seu apartamento. Ele, ao chegar em casa, deitou-se em sua cama com um enorme sorriso estampado na alma. Dormiu.

Agitado, acordou de madrugada, ligou para ela, que, ao atender, disse apenas:

- Estou lhe esperando.

Então o rapaz foi até lá e, hoje, os dois dormirão juntos, assim que ele acabar de escrever esse texto.

24 comentários:

Menina Bonita. disse...

Olá (:
Adoro crônicas.E adorei seu blog *_*
As vezes,nessa vida me sinto também um amontoado de carne,ossos e alma.
Mas alma do que carne,e mais ossos que tudo ;S
Se bem que tenho meu blog porque vivo procurando 'um pouco mais de alma'..ai ai melhor para de criar casos pq a minha necessidade de escrever se mostra muito em comentários e preciso parar com isso..rs
Enfim,antes de terminar um pequeno comentário sobre seu perfil: adorei rs
Sou totalmente cheia de alterações de humor pelas minhas neuroses da vida ;)

Beijos grandes :*

gisellepitty disse...

Que lindo.
Sabe...lendo esta crônica, imaginei imediata e perfeitamente todas as cenas, uma a uma.

Quato às minhas palavras ao seu blog...eu realmente me sinto feliz em ver que há pessoas dispostas a fazer a internet valer a pena. É tanta imbecilicade e exposição de corpos que me causam desânimo. Mas enfim...é isso. E agora, me vejo praticamente obrigada a passar aqui todos os dias pra ver se tem uma nova crônica...e eu é que agradeço por este blog existir.

Bjs.

Carla Said disse...

Poeticamente perfeito...Sensível, suave, sensual, silencioso...
Adorei a tua crônica...um olhar realmente vale mais que palavras...

(...)

Beijos

Fraturas Expostas disse...

Esse é o extraordinário da vida: saber que o amor está lá, te dando todas as respostas, esperando somente para ser encontrado.

uma beleza de texto.
me deu esperança, sincera, que o amor sempre existe.

Dan Bonfim disse...

Ual!
Que texto gostoso de ler.
^^
Sempre bom passar por aqui, abraços!

Mariana disse...

Adorei ler. Foi leve e simpático...

gostei mto!! beijocas

Anônimo disse...

Que bonitinho...

Beijos.

Caio Lemos disse...

passou a sensação de que o personagem aproveitou especialmente cada momento do encontro. cheio d matizes, bem legal.

uma troca d olhares em um lugar "comum" e...pronto! essas coisas são mais comuns doq se imagina =]

*Raíssa disse...

Maravilhoso encontro casual (?). Fiquei imaginando todas as cenas com todos os detalhes...
Texto lindo, como sempre! Por que você não escreve um livro com as suas crônicas? Ia vender feito água!
E obrigada pelo elogia ao meu poema :)
Quando a inspiração pousar sobre a minha imaginação, eu escrevo outro.

Beijos

Tripolar disse...

Rapaz, fiquei encantado com a tua veia lírica. Tu escreves muito bem. Não é todo dia que me deparo com algo tão significativo e tão sensível. Parabéns!!!!
Abraço,
Tri.

A minha realidade disse...

legal né o "Um nós por dois eus"
Adorei seu texto...coisa bem surreal, mas queria ser paula nessas horas!!

beijo

Thiago da Hora disse...

não sei se já falaram isso a você, mas... olhando seu perfil no orkut e depois lendo seus textos aqui não dá para fazer uma ligação entre as pessoas. HAHAHAHA lá você passa uma imagem, e aqui outra... é estranho. gostei disso. você escreve MUITO bem!

Amanda Marques disse...

Adoreiii essa crônica!
muuuito legal aki!
vc escreve bem pakas

passa lá?!
http://amandaml.blogspot.com/

Beeeijos

Mayara disse...

Que texto bom de ler.

Gustavo Santiago disse...

é igor olha eu aqui.

vou ser sincero achei que vc acabou rapido esse texto. pq foi assim pra mim, eu começei a ler na segunda estrofe o texto me envolveu e foi envolvendo e tá. pronto vc acabou com o texto.

porra véi tava massa.
=D

grande igor fera, a gente tem um pouco de aproximação sim na escrita. É preciso descrever o que se passa com esses corpos que nos cercam.
E pra falar verdade vc dá cada garfada tem hora. olha essa frase.

"ele puxou as mãos delicadas da moça para o seu peito e sorriu serenamente, como quem tem todas as respostas para a vida".

lindo

Anônimo disse...

Pow cara.....li todas as suas postagens de Maio....cara é instigante e excitante suas mensagens.....mt boas mesmo. São poucos os blogs que conseguem transmitir isso. Você tem algo que muitos procuram, e poucos tem...TALENTO.....

Abraços...parabéns!!!!

Yuricka disse...

dessa vez foi mais de uma frase!!

"Ele era só mais um amontoado de carne, ossos e alma"

"como quem tem todas as respostas para a vida, mesmo após ela mudar as perguntas."

muuuiiittoo bom!!!

nha, eu adoro os seus textos e isso é fato!

o final como sempre surpreeende!

tem nem o q dizer!

ótimo, ótimo!^^

Julia disse...

Eu axcho que eu ja disse que gosto do seu blog ... e a cada post seu fico impressionada ...
adoro muuuito.
Já pensou em escrever um livro ?

Beijos

Anônimo disse...

...útil encontro [nada] casual...
ótimo!

abraços...
teh

Nathália E. disse...

Poxa, eu sempre imaginei grandes amores começando assim, inesperadamente. Os olhares se compreendendo e tal.
Perfeito!

Beijo.

Tome Chá de Fita disse...

AS DELICIAS DE VIVER...

Luara Quaresma disse...

cara, vc escreve muito bem *-*

Anônimo disse...

Aprendi muito

Unknown disse...

só me diz: é real?

 
Olhando Pra Grama