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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O Quadro

Foto: Jean Saudek

A fisiologia do sujeito desenvolveu-se no sentido de um rosto fora do comum. Um rosto que quando passava frente à moça da cantina no primário, chamava a atenção dela, e também de uns sujeitos de rosto comum, de alma comum, de coração comum, assim, resumidamente, uns sujeitos comuns, que estudavam com ele. Esses já falados nutriam antipatia com o tal do rosto fora do comum. Não pelo fato de ser bonito, porque não o era. Ter uma beleza fora do comum, ainda assim é ter um rosto comum, pois olhando por este ângulo, ali está tudo certinho, tudo simétrico, tão dentro do comum, que por ser demasiadamente dentro, tornou-se fora dele: uma beleza-fora-do-comum. Enfim, não era o caso dele. E também o inverso não se afirma, pois uns achavam o rapaz feio, outros não, sendo assim esta questão um pouco relativa, ou “relativizável”. O moço cresceu e virou um homem feito, com relógio de ponteiro no pulso, blazer preto, e óculos escuros. Ganhou um monte de responsabilidades, vaidades, neuroses, complexos... E depois de muito tempo, aconteceu o tal fato curioso: ele ficou tão comum, que o rosto incomum já nem mais ficava evidente. O corte de cabelo, os óculos de design moderno, e o cheiro de perfume caro, cobriram toda aquela luminosidade do diferente. Inclusive aqueles amigos de rosto comum no primário, passaram a se identificar com o tal sujeito, e viraram companheiros de trabalho, de clube, de fim de semana, tendo hábitos muito parecidos. O rapaz continuou com a vida, fazendo a barba de manhã, ensaiando elaborados nós na gravata... Ia para o maravilhoso emprego comum, dirigindo um elegantíssimo carro comum, dando “bons dias” comuns, e recebendo os comuns elogios. Até que um dia não conseguiu dar seqüência à rotina, pois havia transformado-se em um quadro, na sala de estar da empresa.

8 comentários:

*Raíssa disse...

Ser diferente é legal. Ser comum também é legal, às vezes. Mas quando se é comum demais, se torna chato; tudo sempre muito igual cansa.

Não podemos deixar que as nossas responsabilidades nos transformem em mais um quadro nos corredores da socidade, senão a vida perde a graça.

Beijos

Luifel disse...

Velho, a beleza é algo circunstancial, segundo uma amiga minha. Nós estamos habituados ao senso comum maniqueísta que denomina o q vem a ser feito ou bonito.

A diferença tem uma beleza enorme. Se pararmos pra pensar na beleza das diferenças a valorizariamos mais. Infelizmente somos mediocres (eu me incluo) e aceitamos o senso comum maniqueista da sociedade e vamos impondo valor ao comum, ao bonito, ao agradável e não valorizamos a beleza existente no difeente, no feio, no aparentemente desagradável...

Abção!

Anônimo disse...

gosto de pessoas não- comuns uhauahuah

adoro seus textos

Eulália disse...

Hummmmmmmmmmm.

gisellepitty disse...

uau...imagem chocante.

Ai amigo...tô tão sem tempo de vir te visitar. Não sei como arrumei tanta coisa pra fazer...mas confesso que adoro estar sem tempo.

Saudade de vagar por tuas crônicas!

Bjs

Camilíssima Furtado disse...

Muito interessante... Ser comum realmente é um tanto monótono. Eu gosto de ser várias e nunca sei quem realmente sou, isso ajuda a quebrar a rotina... Gostei dos teus textos, bastante reflexivos. Vou aparecer mais vezes por aqui...
Abraços! Camila.

Sujeito Oculto disse...

Não é o que queremos? Ser comuns? Apenas mais um na lista?

Gabriela Galvão disse...

Dorian Gray?

 
Olhando Pra Grama