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domingo, 11 de janeiro de 2009

O Abismo de Sônia

Este alguns já conhecem.
Eu havia excluido para mandar a um concurso.


Agora ele está de volta!


Nada mais lindo do que as imperfeições do corpo de uma mulher de verdade. Sônia veio pelo corredor vestindo somente o branco de sua pele e o negro de seus cabelos. Ela não sabia, mas quando se deitava em sua nova cama, meus olhos nadavam de poro em poro, refrescando-se. Toda noite acontecia o espetáculo: a luz indireta caia da lua, atravessava a janela e espalhava-se como tinta em todo aquele palco. O teatro de Sônia: cena e cenário.

Agora estou aqui, voando invisível em frente a sua janela. Seu quarto é um templo que não admite invasores. Ainda que seja só a felicidade batendo na porta, sorrindo pro nada. Sônia não abre exceções, nem as exceções abrem Sônia. Houve época em que ela queria correr até furar o nada e cair direto em outro plano. Envolver-se no edredom macio da satisfação. Sônia desistiu da satisfação. Ela não corre mais, nem pensa em correr. Hoje em dia só anda, caminha, faz hora... Não quer mais ser feliz. Não a ponto de tentar sê-lo. Caminha no céu, caminha no mar... Nas estrelas, nas lágrimas, no sorriso que não mais acontece. Sônia não olha mais pra frente pra enxergar a vida. Só olha pra baixo e caminha.

Deus! Se Sônia soubesse como é linda. Eu já tentei avisá-la: ela não acredita... No fundo acha que gosta muito de si mesma, mas o verdadeiro narcisista é feliz; ainda que por ideologia. Na verdade não é, mas também não assume pro espelho quando chora. Sônia assume. Uma vez tentei ser de Sônia, procurando minha felicidade nos sorrisos dela. Doeu muito quando descobri que ela nunca sorriu. Só mostrava os dentes por mentira. E hoje... Não quero mais dar as mãos para Sônia, mas quero muito vê-la correr, pular e então, finalmente, alcançar o que procura. Só pra ver Sônia sorrir, cantar, dançar... Mas ela desistiu. E agora vai ser sempre um arco invertido, uma parábola. Um eterno sorriso triste, que não consegue sorrir por nada.

Se eu invadisse, novamente, o seu sagrado templo – inviolável -, pintaria todas as paredes com a mesma tinta que colore as imperfeições de seu corpo, em sua nova cama, à noite. O belo corpo imperfeito, pintado à mão pelo destino. Trabalhado em cada curva acidentada, com pincéis feitos de dores, por ser uma mulher de verdade. E eu vou sempre torcer por Sônia, debaixo do mesmo céu, ainda que de longe, separados pelo abismo do desinteresse, que não nos permite, nem mesmo, uma seqüência de madeiras velhas, amarradas por uma corda rústica, milhares de metros acima do solo. Pois isso é bem mais que um fato: ninguém, além de nós, construirá essa ponte...

6 comentários:

Jozieli disse...

O lendo pela segunda vez descobri que tenho muito dela em mim. Que coisa.

Mariana disse...

Não tem uma vez que leio seu blog, seus contos, crônicas, seja o que for, que não fico por uns segundos parada acomodando tudo aquilo que se chocou com meu valores.

Você tem uma sensibilidade incrivel para escrever. Sou apaixonada nisso.

Beijos

*Raíssa disse...

Lembro-me bem deste texto! Lembro até mais ou menos o que comentei. Toda mulher tem um pouco de Sônia.

Beijos!

Monalisa Marques disse...

Quando li "O abismo de Sônia", logo pensei que a Sônia o deixava num abismo por causar insônia.

(Acho que treinei meu cérebro pra pensar em trocadilhos 24h por dia, sem parar).

Rapaz, lhe desejo um ótimo 2009.
Um abraço pra ti, e aqui foi o primeiro de muitos.

Rômulo Pacheco disse...

tem um meme pra você no meu blog, cara, da uma olhada lá! muito bom o seu trabalho, gosto mesmo! abraços!

Anônimo disse...

legal... adoro imperfeições... achu que a beleza precisa delas...

abraços!
adoro vir aki^^ vc eh realmente bom!

 
Olhando Pra Grama