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domingo, 29 de junho de 2008

Carta à Ana



Sabe por que eu gostei de você, Ana? Sabe como eu consegui, realmente, amar você? Porque eu não faço questão de pão francês no café da manhã, nem de feijão no almoço, nem de carro na garagem. Não faço questão de TV na sala, nem de olho gordo de vizinho, nem de ancas promissoras. Pra mim já estaria bom o cheiro dos seus cabelos pela manhã, amassadinhos no travesseiro e a gente num colchonete. Um ninho de edredom e lã, bem debaixo da janela. Sabe a janela? Pra mim já estaria boa, com vista pro vizinho da frente; sem perspectiva. Aliás, nunca gostei de perspectivas. Sabe por que eu gostei de você, Ana? Porque eu nunca gostei de perspectivas: prefiro muito mais o lado de dentro; ainda que apertadinho, pequeno, não todo cheio desse glamour, que, aliás, eu também não gosto. Se for pra projetar, prefiro usar uma lupa. Sabe por que eu gostei de você, Ana? Porque eu sempre usei uma lupa. Eu via você com uma lupa, Ana; a minha lupa. As coisas pequenas, os detalhes; eles ficam todos grandes. É esse o valor do pequeno: Grande. Além do mais, essa questão é maior... Bem maior do que nossas lentes. Isso tem a ver com os Eu´s, Ana: são muito maiores do que os Eles. Os Eles deveriam entender melhor os Eu´s. Pois sabe o que aconteceria, Ana? Logo, logo, Tudo, seria Nós. E Nós, Aninha... É muito mais bonito.

Agora, Aninha, que o ninho debaixo da janela pegou fogo, que o cheirinho do shampoo é só de shampoo, sem suor, sem amor... Já tratei de fazer outros planos. Pra hoje eu almejo somente: comida leve, banho quente, livro bom e cama macia. Os sonhos, Aninha, vou continuar sonhando – os sonhos bons. Pra mim, eles sempre foram como festa americana: cada um leva alguma coisa, e assim garante a própria presença. Eu te disse: vou continuar sonhando. Mas dessa vez só entra convidado, Ana. Não adianta levar docinhos. Aliás, Aninha, eu estou fazendo dieta. Só como amor, amizade, boa intenção e essas comidas leves. Sabe... Vai que alguém resolve me olhar com uma lupa? Ah, eu vou querer estar em forma, Aninha... Aliás, já estou bem bonito.

De manhã lhe deixei um bilhete, feito uma pequena aliteração: Parado, polido, pensando na praça... Eu até lembrava de você, Ana. Eu ainda lembro. Mas sabe... Já não é a mesma coisa.


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E um recadinho: Estou escrevendo agora num blog de educadores chamado: Ser Humínimo. Quem quiser conferir o que rola, é só entrar no link. São todos professores da rede pública, com cabeças muito abertas e com muito a dizer. Meu texto de estréia, lá, chama-se: Sobre Meter Colheres.

[ http://serhuminimo.blogspot.com ]

domingo, 15 de junho de 2008

Ian Seguiu Sua Mente

Antes do texto de hoje, gostaria de pedir mil desculpas para todos vocês que andam comentando e acompanhando, tão atentamente, o meu blog, por eu não ter respondido nas últimas semanas! Mesmo eu não respondendo, continuam vindo aqui sempre dar uma conferida e isso me deixa, realmente, muito feliz e empenhado para continuar com este espaço! Desculpem-me!

Não tenho tido tempo, devido ao meu novo emprego. Agora tenho o dia repleto de atividades. O que sobra de mim, infelizmente, fica guardado pro cansaço.
Prometo que no próximo fim de semana, vou pegar algumas horas e responder a todos, com muita alegria no peito; prometo! rs

Agora, pra não passar em branco, vou deixar aqui um novo conto: Ian Seguiu Sua Mente.

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E então, Ian; sente-se resignado? Correu com todas as forças, a ponto de andar sobre a água, somente para poder alcançá-la e desistes? Não obstante, alguma coisa, dentre todas as coisas, tu tiras, Ian. Tens que tirar. Precisas! Este cigarro em tua boca, Ian? É para exortá-lo? É para fazer charme? É para espantar mosquitos, Ian? Apague esta porra e acenda esta chama, camarada! Teu amor se encontra a duas quadras! Nem ferir teus pés, tu vais, Ian; acorde!

- Ninguém espera de mim, mais do que ando fazendo. Ela pode ter tudo, mas a mim, não mais. Eu só tenho tudo que quero, por não querer droga nenhuma. Nunca perco nada, porque não tenho nada. Nem disputar eu disputo – exceto comigo mesmo. Vou continuar aqui e esperar, até que ela entre, passe por aquela maldita porta e só saia de lá com os devidos pontos finais. Cansei de vírgulas! – Ian respondia sua consciência.

Ora Ian, o que é que te custa?! Não há nada aprazível nesta desistência mórbida, meu camarada! Vá lá! Vá lá! Chute aquela porta e grite! O fundo destes copos, você já conhece muito bem! O teu coração, pra ti mesmo, é, ainda, mistério, homem. Vamos lá que eu te ajudo; te digo o que dizer, irmão. Somos a mesma pessoa! Chapéu na cabeça; bata o pó da espádua. Entre lá e lhe diga! Vá!

Lá em cima uma cruz, cá em baixo esta porta. Tomastes a atitude certa, camarada. Chute a porta! Chute a porta!

- Valéria, desça daí! Esse verme não te merece! – Ian arrebentou o pé na porta da Igreja, e já entrou gritando suas dores. Valéria estava casando-se com Márcio, seu psicólogo; agora noivo. A igreja toda, escandalizada, olha para ele e, apenas, se ouve o som incessante dos olhares tensos.

- Ian, por favor, você não tomou seu remédio?! Esta é a quarta vez que nos interrompe! Desculpem-me, pessoal! Daqui a dez minutos a gente retoma! Dez minutinhos. – Após as palavras, Valéria caminhou estressada na direção de Ian e o advertiu, o beijou, o colocou num taxi e voltou para o trabalho. Ian, sempre que deixa de tomar o remédio, enche a cara e interrompe as gravações de Valéria. Mas até que eles formam um belo casal. Valéria costuma dizer que não troca ele por nada. O amor supera até a esquizofrenia; toalha molhada em cima da cama e lata de cerveja manchando a mesa, são as únicas coisas que fazem Valéria pensar em divórcio.


;)
 
Olhando Pra Grama