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terça-feira, 29 de abril de 2008

Dados de batalha



Noite de terça-feira, rua vazia; as luzes da cidade, algumas delas, entravam suavemente através da janela, iluminando alguma parte do teto de seu mais recôndito templo: O quarto. Frente ao seu velho computador, batia nas teclas sujas de café, em função vegetativa. Escrevia ele:

"Entretanto, apesar do amor ser feito de matéria etérea, puro sentimento, pode-se, sem tanto esforço, colocar a coisa na planilha e se fazer algum cálculo. Como ando treinando meu otimismo, a coisa dar-se-á em saldo:
A virginiana:
- Boas lembranças de risadas sem motivos.
- Tigres de 21 podem se dar bem.
- Otimização do meu estranho gosto por roupas.
- Um CD dos Strokes autografado.
- Autoconhecimento, pós crise.

A geminiana:
- Uh! Aprendi que a vida pode ser mais leve. Ou quase aprendi.
- Sexo e palavras que não mais esqueço.
- A inteligência deixa as pessoas mais bonitas.
- Não devo solicitar alguém, sem estar certo de que quero isso.

A taurina:
- Tigres de 21, realmente, podem se dar bem.
- A inteligência, realmente, deixa as pessoas mais bonitas.
- Que beleza é ter terra no mapa.
- A faculdade de história é algo a se pensar.
- Não sou poligâmico.

A escorpiana.
- Tigres de 21, realmente, podem se dar bem! Hahaha! Ela não tem 21.
- Um monte de livros pra ler. Alguns para enfeitar a estante.
- Conhecimento antropológico empírico sobre a maldade humana.
- Molho branco pode ser bom. Depende do tempero.
- “Paranoid Park” and “The Kite Runner”! Belos filmes.
- Material para literatura.
- Vontade de rir da má intenção dos outros.

Analisando os cálculos, fazendo o balanço,pegando o resultado... Procuro uma capricorniana. Se tiver seios grandes, ganha cinco pontos na frente.”


A noite enoitecia-se cada vez mais, ele comeu alguns pedaços de pizza, bebeu uma cerveja que estava escondida no fundo da geladeira e sonhou que estava lanchando com uma cabra num restaurante estranho em Perdizes.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Crônica do ansioso.


Cá estou perto dela. Poucos metros, posso chegar à sua casa. Nem a chuva, nem o vento, nem os mendigos que batem carteira no centro de São Paulo, podem impedir-me de ir até lá. Exceto o metrô. O metrô não dá, ninguém agüenta; mas dessa vez não é o caso. Estou mesmo perto da casa dela. Ando alguns metros, toco o interfone e vejo o que acontece. Felizmente isso não tem a menor chance de acontecer. Se fosse na época em que coloquei meu coração naquele delicioso ensopado de camarão que ela fez, haveria risco. Hoje não. Pra mim, hoje, o único e pequeno incômodo que, por acaso, fica cada dia menor e mais distante, é aquele restinho de esperança de vê-la de longe no ponto de ônibus, dar um pequeno tchauzinho e rumar sentido à São João, no ônibus de dez e quarenta.


Hoje penso que se fosse o caso, e não é o caso, de voltar a ter algo com ela, seria melhor. A imagem romântica e fantasiosa que eu tinha, desmanchou como fumaça nas últimas semanas. Ficar esse tempo todo sem vê-la, serviu para mostrar que é até melhor assim. Eu com mais tempo pra mim, ela com mais tempo para ela e os tempos juntos, só aqueles que viessem a calhar por força das circunstâncias, sejam elas quais fossem, ainda que a saudade. Mas dessa vez uma saudade mais mansa, que por sinal, é menos fantasiosa e mais aproveitável. Vidas que seguem. Eu iria para o meu atual emprego, ela pro dela, eu pro curso, ela pra faculdade e assim os dois teriam sono o suficiente para dormir sem o travesseiro da neurose, nos dias úteis.


Ah... Senti muita falta daqueles olhos vermelhos que ela tinha, é verdade. Andava na rua vendo vários avatares daquele semblante. A moça de cabelos negros e franja, a outra de pernas longas e glúteos torneados. Olhando bem, apesar de serem apenas avatares na minha cabeça, eram mulheres interessantes. Mas nenhuma! Nenhuma tinha os olhos vermelhos do Mar de Ana... Em mim o amor gera a ansiedade da sempre-procura por algo que não se busca. Paixões? A melhor é a próxima.


Escrevo o final desses pensamento-sem-compromisso, já no ônibus das dez e quarenta. Lembrei-me de mais um detalhe do futuro entre nossos egos. Agora que sou um funcionário público – dos piores, mas sou – iríamos ao cinema, ao japonês, aos shows ou ao que quer que fosse. Só não ficaríamos em casa no Domingo, respirando o tédio, alimentando a crise. Casa: Cada um com a sua.


Já para o meu próximo amor, ainda digo: Se fosse pra ser polígamo, nascia com dois pirus.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Mais uma manhã...



Mesmo eu que sou meio desavergonhado, prefiro dar tom de fofoca, contando tudo na terceira pessoa.

Acorda no piloto automático: Levanta, bate a cara na primeira, segunda e às vezes terceira parede ao longo do caminho entre o quarto e a cozinha. Chegando lá tira o leite, os sucrilhos, o café e o tênis; da geladeira, da dispensa, da garrafa e do armário; tudo assim, seqüenciado, matemático: um, dois, três, quatro, estão contidos em a, b, c, d. Há dias em que a coisa falha e ele toma sucrilhos com café, servindo o leite no tênis mesmo. Na portaria ele percebe as pegadas esbranquiçadas e o olhar esbugalhado do porteiro que pouco entende suas idiossincrasias.

- Bom dia, seu Humberto! - ele diz rindo - Café da manhã corrido é isso mesmo!

O olho de seu Humberto ainda cai do rosto.

Quando chega no trabalho com roupa de fazer exercícios, o chefe diz:

- Ainda são 7 horas! A academia era pro outro lado, rapaz!

E ele não entende muito bem, com seu MP3 no último volume, tentando renitentemente passar o cartãozinho da Body & Life na máquina de marcar presença da empresa.

Ah, a juventude...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Mais um capítulo.



E pela primeira vez, depois dos últimos longos dias de crise, ele passou uma tarde tranquila. Não tinha amigos, não tinha namorada, tão pouco paquera, só o computador e essa ligação verdadeira-pela-metade com o Mundo real. É bem verdade que ele se sente sozinho nessa cidade, ainda mais em Domingos e feriados, mas agora, depois desses longos dias, pela primeira vez ele animou-se ao olhar para a São João de sua janela e pensar que poderia ser possível andar pela cidade e, quem sabe, descobrir algum ativador para os bons sentimentos que, ele sabe, estão dormindo ali dentro do estômago, esperando pra serem acordados. Um bar, uma loja, uma rua... Quem sabe até uma pessoa?! Não, ele é introvertido demais para isso.
Mas pela primeira vez, depois de tão longos dias de crise, ele olhou através da janela, viu a longa e estra São João e soube que, dentro dele, há coisas chamando pra fora.

Dessa vez, não é vômito.

Aviso

Aviso: A partir de hoje o blog pode ser comentado.

domingo, 20 de abril de 2008

Insight



O quarto estava escuro. Só se via a branda e aveludada luz amarela do abajur. Já era noite e ele pensava com velocidade à cima da permitida em suas estradas. Andando em círculos, frente à sua janela, tentava achar o que não sabia estar procurando. Depois de cruzar a cidade em um simples olhar para o Copan, lhe veio o insight:

- É isso! Todos os caminhos vão para dentro!

Foi ai que ele viu... Independência é um fato que só precisa ser constatado. É inerente, indissolúvel. O mais é erro. Deus enviou, para cada um corpo, somente uma vida.

sábado, 19 de abril de 2008

Histórias de Grilo



Então... Depois de ter feito o macarrão com aquele delicioso molho vermelho, ele inseriu-se no mundo que estava retido naquele objeto. O fluido verde-invisível inspirava. Transubstanciado, expirava. Branco, branco, branco, ficou vermelho; assim como o molho. .
Ao invés de andar, ele resolveu nadar pelos cômodos. Mergulhou na cozinha, de frente para o macarrão. Espremeu levemente os ombros contra a nuca e, em seguida, esticou a coluna. Olhou em volta e viu como era bom. Escutou os grilos.

Um dos grilos o alertou, para que não esquecesse os problemas. Rindo, ele disse que só fez isso para conseguir esquecê-los.


( Histórias de Grilo - Igor Lessa, 30/11/2005 )

Histórias de Grilo II



Nota-se que naquele dia, já era noite. Todos dormiram, um a um. Pela manhã, a mesa chamava por cada um deles.


- Vamos? - Ele perguntou.
- Vamos. - Disse o ar que rondava os corpos.


Então fizeram a receita e cada um foi até seu ponto. Aqueles raios de sol fininhos que entravam pela janela, eram ótimos figurantes. O latino se esgueirou sob a mesa, a menina olhou para a cena e ele teceu um dos seus comentários. A menina concorda, o latino ri e ele se emociona com sua própria sensibilidade.
Cada um analisa aquela cena de um jeito tão individual como a nuca. Os olhos baixos escaneiam os corpos. As mãos tentam envolver uma a outra. As bocas deixam escapar pequenos sorrisinhos pelo canto. E as mentes f r e n é t i c a m e n t e batem palmas!


- Ah! Que espetáculo é a vida! - diz o pequeno grilo.
- Um daqueles bem "Lynch", que você não entende, mas acha graça e no fundo sabe que tem um sentido. - Ela retruca.
- E que é até bem simples, mas se fosse direto, quem é que daria atenção? - Ele indaga.


Então o grilo volta a fazer seu som peculiar...


( Histórias de Grilo II - Igor Lessa, 01/12/2005 )

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Receita



Aí você vê a pessoa e localiza o calcanhar de Aquíles dela.
- Primeiro você seduz. Deixe que ela pense que você é o que ela quer que você seja e que, ainda por cima, você pode ser dela.
- Feito isso, começe a mostrar que você não é tão dela assim, começe a dar pequenos cortes, que façam doer, mas que não matem de vez. Aí você espera o momento certo e dá o corte fatal.
- Deixe o tempo passar um pouco até a pessoa vir agonizar na sua frente. Quando isso acontecer, mire o calcanhar de Aquíles dela e enfie a faca, cuspa, morda, picote e chute. Tudo isso com palavras bem secas, diretas e objetivas, com olhar apático e indiferente.
- Agora é só ir pra casa ver Fantástico, fumar um cigarrinho e dar risada.
- Não mais apareça.


Parabéns, você é escroto.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Augusta sofria de angústia.




Augusta sofria de angústia. Olhava através da janela de seu quarto e pensava no peso da atmosfera. O invisível é sempre o que mais faz diferença, ela sabia.

Um dia bebeu, chorou e desceu correndo a rua Augusta. Pensou que ia encontrar o fim da angústia. Sorte dela que não. Quando ia fazê-lo, todos os passarinhos e cigarras da cidade cantaram em coro a sua música preferida e com as lágrimas dela começaram a escorrer pequeniníssimos pontinhos pretos, que os pássaros trataram de bicar de pronto e em seguida se puseram a guiar Augusta até sua casa. No fim das contas, Augusta não dormiu em casa... Nem dormir ela dormiu! Ela chorou, ela correu, ela rolou-se, ralou-se, cortou-se e caminhou. Mas agora, amiguinhos, Augusta não sofre mais de Angústia. E um dia ela ainda volta à Augusta.

domingo, 13 de abril de 2008

Só não se mate!



O que eu entendi é que se você estiver muito, mas muito triste, depressivo, melancólico, anedônico, desesperado, você só não pode se matar. Beba, fume, corra, chore, brigue! "Cai na mão" mesmo, cara, foda-se! Engorde, emagreça, leia, durma, olhe pra parede, chore mais, mas não se mate. Sabe por que? Porque isso vai passar.
Mesmo que um dia volte, assim como volta, passa. E quando passa, você percebe que nada, nem ninguém merece a sua baixa da existência. Você descobre que o Mundo é grande, a vida intensa - se você quiser - e que você ainda pode fazer sucesso na MTV da Australia, tocando música eletrônica. E as letras podem falar de tudo o que você sofreu e aprendeu e então você percebe que se não tivesse sofrido e aprendido, não haveria letras, músicas e sucesso na MTV da Austrália.

E loirinhas escrevendo seu nome no peito.

sábado, 12 de abril de 2008




O Ministério da Saúde adverte: Se amar, não beba.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Reflexão entre séries.

Ela apreciava a maldade e o ostracismo.
Eu, a bondade e a entrega.
Eramos astrologicamente compatíveis, mas em tempos e circunstâncias diferentes.

Um karma diferente: na hora de reencarnar, metade do meu espírito nasceu doze anos antes da outra. Uma em um corpo feminino com atitudes masculinas e a outra em um corpo masculino com atitudes femininas, ou seja, esse que agora escreve. Todo o mal que me acostumei a fazer com os outros nas vidas passadas, agora, a metade minha que está no outro corpo - o feminino - faz com essa outra metade que está nesse meu corpo masculino.

Oxumarê, meu santo de cabeça, tem também dois sexos. Tenho uma vida bifurcada, mas cheia de certezas irrecorríveis. Dúbias! Amor e ódio, euforia e depressão... Mas irrecorríves.

Agora a metade mais nova espera a mais velha todo dia no ponto de ônibus. Ela olha pro infinito, não ve nada e volta pra casa com a esperança de um dia não ter mais esperança.

sábado, 5 de abril de 2008

Enquanto isso no jardim...

Hoje eu vi um gnomo no jardim.
Quando olhei de novo, já não estava mais lá.
Só um toco de árvore,
que me lembra muito um gnomo de jardim.
 
Olhando Pra Grama